Dicas de Cinema: Piratas do Rock (The Boat That Rocked)

Já pararam para pensar porque as rádios piratas têm esse nome? A comédia “Os Piratas do Rock” ensina, sem muito didatismo, de onde veio o termo. O filme é um hino de amor do diretor Richard Curtis aos DJs rebeldes, que invadiram as ondas médias do Reino Unido nos anos 60 tocando muito rock, desafiando o governo e promovendo o mau comportamento.

Antes de virar diretor, Curtis escreveu várias comédias românticas de sucesso, como “Quatro Casamentos e um Funeral” (1994), “Um Lugar Chamado Notting Hill” (1999) e “O Diário de Bridget Jones” (2001). Mas “Piratas do Rock” está mais para seu trabalho nas comédias excêntricas da TV britânica (“Black Adder”, “The Vicar of Dibley”, “Mr. Bean”), como uma sucessão de sketches, que aposta em bons personagens e forte elenco para manter um mínimo de coesão e contar os fragmentos de uma história su(postamente)rreal.
A trama, que celebra a ousadia, o pioneirismo e a fama dos DJs piratas, baseia-se em fatos, mas é um trabalho de ficção, uma visão romanceada de eventos que não aconteceram e personagens que nunca existiram, apresentados como recriação de uma época.

A história se passa em 1966, a bordo de um navio ancorado na costa britânica, que serve de base para a estação não autorizada “Radio Rock”. Curtis toma como base a icônica Radio Caroline, que em 1964 passou a transmitir rock para o Reino Unido a partir de um navio.
O período é o auge da Beatlemania e da invasão mundial da música britânica, quando as garotas se escabelavam, perseguiam os músicos e gritavam mais alto que as guitarras. Mas a única emissora oficial de rádio da Inglaterra, a BBC, dedicava apenas 2 horas por dia a esse tipo de música. O resto eram notícias e música clássica.
A saída foi o mar. Rádios montadas fora do alcance do controle estatal, no limite das milhas territoriais do Reino, em águas internacionais. Por isso os barcos, por isso “rádio piratas”.


O longa não agradará a todos. Assim como 8 Mile - Rua das Ilusões é praticamente descartável para quem não é fã do rapper Eminem, "Piratas do Rock" provavelmente não entrará na sua lista de "melhores comédias do ano" caso não se identifique muito com o bom e velho rock n' roll. Mas, diferentemente do filme baseado na vida do rapper branco mais bem sucedido da história, "Piratas do Rock" não carece de boas piadas, interpretações marcantes e situações inusitadas ao melhor estilo rocknrolla de ser. Muito pelo contrário: o humor ácido e extremamente sarcástico inerente aos britânicos faz da trama estrelada por Phillip Seymour-Hoffmann e cia. algo mais do que um simples entretenimento. Num contexto geral, a obra é realmente muito boa.

Em uma comparação um pouco grotesca, "Piratas do Rock" seria um "Sexo, Rock e Confusão (Empire Records, 1995)" mais adulto - com melhor enredo, trama mais chamativa, elenco mais experiente e trilha sonora marcante.

Fica a dica, mancebos!

Isto, é claro, se você tiver um jeito meio Pauta de Buteco de enxergar a vida.

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